quinta-feira, 12 de novembro de 2009

FOOTING, GOFFMAN, por Joselma Ramos

Erving Goffman

Para que se conheça o foco dos estudos de Sociolingüística interacional, é necessário considerar a importância da análise da conversação (AC) para essa área do conhecimento associada ao exame de contexto. Este passa então a configurar não de forma ilustrativa à AC, mas representa condição imprescindível para a análise dos eventos linguísticos.
Considerando isso, os estudos de Goffman (1972) são relevantes para a compreensão desses discursos em processo de interação face a face, entre eles, o conceito de Footing.
Goffman define como Footing, a partir de enquadres, uma mudança no alinhamento que os participantes assumem para eles mesmos e para os outros presentes em uma situação comunicativa. Dessa forma, Footing seria o desdobramento dos enquadres numa situação comunicativa (evento) face a face. O autor compara isso a seguinte situação:
Do mesmo modo que os dramaturgos podem colocar qualquer tipo de universo no palco, também nós podemos representar qualquer estrutura de participação e qualquer formato de produção na nossa conversa.
Para que se compreenda isso com mais exatidão, Goffman trabalha com dois conceitos: estrutura de participação e status de participação. O primeiro diz respeito as diversas maneiras como os participantes se interrelacionam, ou seja, os papéis que assumem na interação. Constituem um aspecto fundamental sobre o modo apropriado de interagir no encontro social, além de permitir que se identifique mais facilmente o alinhamento dos participantes. Um exemplo disso seria uma entrevista cujo entrevistador seria um papel ( alinhamento) e entrevistado (outro alinhamento), mas nada impede que assumam outras possibilidades durante a entrevista (até mesmo a troca de papéis). O segundo diz respeito a posição assumida na interação, o formato de produção, ou seja, uma pessoa pode está na posição de Presidente da República (papel), mas se comportar como um torcedor de futebol em determinado momento de uma interação.
Goffman altera, ao longo do seu texto, a noção tradicional de falante e ouvinte, ou seja, alguém que fala, outro que escuta, como se ambos estivessem inteiramente envolvidos numa situação ideal, apenas linguística e nada mais. É como se o falante, ao nomear seu ouvinte, fosse prontamente atendido e não houvesse outros interagentes ou mesmo que o ouvinte nomeado estivesse em total sintonia com o falante. Se considerarmos apenas isso, não é possível entender o que seriam Footings numa interação face a face.

Dessa forma, a análise desse estudioso passa a evidenciar que é necessário considerar que outros interagentes possam estar envolvidos ou que o ouvinte nomeado possa não responder à conversação. Para isso, o autor ressalta a importância de elementos nas interações face a face como turnos, pistas visuais, marcadores linguísticos, função paralingüística da gesticulação etc.
Dessas definições, o conceito de Footing fica mais claro a partir de dois pontos. O primeiro é que tem que se considerar, nas interações, uma estrutura de participação, um formato de produção para muito além da condição ouvinte-falante. O segundo ponto é o que diz respeito ao encaixamento e compreensão do efeito em camadas que parece ser uma conseqüência fundamental do processo de produção ao falar. Em suma, Goffman nos mostra a necessidade de observar que as estruturas de participação estão sujeitas a transformações num processo de interação e há uma vasta gama de possibilidades para serem analisadas.
Ele ressalta que a conversação não é um único contexto de uma fala.
Daí, parte para a idéia de um falante/ animador. O indivíduo que anima está produzindo seu próprio texto e delimitando sua própria posição através dele. O que pode ilustrar essa situação é a possibilidade de se narrar o próprio passado, mas já num footing diferente daquele ou quando se assume um discurso que pode representar outros como a seqüência ‘”nós, povo brasileiro”, etc.
Em suma, ao se considerar a teoria de Footing, de Goffmam, é preciso pensar que é preciso situar o sentido implícito em cada ação. Segundo o autor, “ estamos constantemente propondo ou mantendo enquadres que organizam o discurso e os orientam com relação à situação interacional”. Portanto, faz –se necessário se perguntar onde, quando e como se situa a interação. Isso é que se quer dizer com alinhamento e postura (Footing). Segundo ele, é necessário perceber “a projeção do eu de um participante na sua relação com o outro, consigo próprio e com o discurso em construção”.
Uma mudança de footing significa uma mudança de alinhamento e isso, enquanto se fala, ocorre frequentemente. É o que prova esse estudo da análise da conversação.

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